sábado, 4 de julho de 2020

JUSTIÇA E ARTE

Não tenho condições, exatamente, de discorrer sobre justiça de maneira apropriada. Obviamente, não sou jurista, advogado ou qualquer outra coisa relacionada à direito, mas também, não é desse tipo de justiça que pretendo falar, e sim daquela que profissionalmente, ambiciono (ou ambicionava).
Eu tenho vivido na minha carreira diversas situações que me colocam a pensar se verdadeiramente vale a pena fazer arte nesse país e ou nesse momento. Recentemente o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, a maior estatal financeira dessas bandas, publicou um edital para promover lives artísticas como uma espécie de auxílio para uma das classes que mais ficou desamparada por conta da pandemia. Pois vocês sabem qual era o critério para seleção? Número de seguidores nas redes sociais (Instagram, Facebook e YouTube). Claramente, os beneficiados com o cachê dessa promoção seriam aqueles que não precisam, ou como costumamos chamar internamente, os “de sempre”. Felizmente, choveram críticas ao edital e ao próprio banco, que resolveu cancelá-lo. Se teremos uma nova proposta com critérios mais justos, ainda é um mistério.
Outro ponto que me chama muita atenção é a vida dos festivais de música. Se outrora já foram o maior fomentador de novos talentos, revelando artistas maravilhosos da história do Rio Grande do Sul, ultimamente se transformaram em negócios para poucos músicos que vivem do dinheiro que eles pagam, e são figuras carimbadas em todas as edições de todos os eventos que ainda restam. Claro que não estou tirando o mérito artístico de nenhum deles, mas é muita inocência presumir que não existem outros músicos tão bons quanto eles, ou até melhores, que simplesmente não se encaixam na dita “panela festivaleira” instaurada há algum tempo. Eu já fui um entusiasta da Moenda, da Tafona ou da Califórnia, nas duas primeiras já toquei, mas, já tem três anos que me afastei totalmente desse meio, desgostoso e triste com o que sempre presenciava.
Mais um exemplo que posso lembrar é o das premiações e grandes distinções de arte fornecidas pelos trabalhos publicados no ano corrente (literatura, teatro, música, entre outros). Para usar mais uma vez da minha experiência, em 2014 o arranjador do meu primeiro CD foi indicado e premiado pelo seu trabalho numa premiação muito importante aqui do estado, na categoria arranjo. Pois bem, fiquei muito feliz, apesar de que na cerimônia, foram citados outros dois trabalhos dele realizados no mesmo ano. O nosso? Nem menção. Até aí tudo bem, talvez o Cordas&Rimas não tivesse realmente qualidade suficiente para ser mencionado, e eu jamais me incomodaria com isso. O que aconteceu depois é que foi o problema: um dos jurados do tão aclamado prêmio deu sua justificativa para o meu CD não ter participado e nem sequer ter sido mencionado em nada. Aceitei tudo, naturalmente. Meses depois li um artigo dessa mesma pessoa, elogiando um outro trabalho, e enaltecendo qualidades em coisas que eram exatamente as mesmas que tinha criticado no meu.
E a hipocrisia, então? Essa é a que mais dói quando lembro o quão ingrata pode ser a vida artística. A união entre artistas é utópica, infelizmente. É assim em todas as áreas: um quer que o outro se ferre. Já vi um músico exclamando “puta que pariu!” ao “perder” uma premiação para um amigo. Sim, para um amigo e conterrâneo! Já vi outro músico enviando um e-mail anônimo para um festival de outro estado, com justificativas ridículas pedindo a desclassificação de um também amigo e conterrâneo. No teatro? Já vi dono de companhia superfaturando valor de equipamentos como justificativa de não partição de premiação entre os atores. Já vi grupos grandes suprimindo e ameaçando menores. Já vi pessoas usando titulações como se fossem garantia de caráter (isso no teatro e recentemente, também na literatura). Já vi muito! Muito a ponto de querer desistir.
O que é a arte se não um espelho da vida? Basta entrar em qualquer rede social para ver o que o ser humano se tornou, e como isso está em todos os âmbitos, todas as áreas, todas as carreiras. Aí, percebo que a culpa não é da arte, e me volto a ela, cabisbaixo, pedindo desculpas. Ela ainda é o que me resta de esperança em dias melhores. O ponto de querer desistir acima mencionado se termina, e a vontade de fazer algo de verdade, com essência, volta. Eu sou um ciclo, e acredito que serei para sempre.
Vrindecrivo!
(IMAGEM: Voltando às origens, a minha visão ao escrever este indignado texto. Arquivo Pessoal)

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