quarta-feira, 7 de outubro de 2020

CARLOS E DANIELA

Premissa narrativa:

Carlos e Daniela foram namorados durante quase 5 anos na adolescência, até o dia em que ele subiu em um avião e, sem ao menos avisa-la, se mandou para a Tailândia. Agora, de volta ao Brasil depois de quase duas décadas, ele encontra Daniela, por acaso, comprando peixe em uma banca do Mercado Público. Ela ainda está bonita, mas agora usa uma cadeira de rodas.

    Carlos sonhava todas as noites com Daniela. Por minuto sequer, esqueceu seu amor da adolescência.
    A moça, por sua vez, – que com apenas dezenove anos, tinha perdido dois namorados, o primeiro, morto num acidente de trânsito; e o segundo, Carlos, desaparecido de sua vida – havia superado, obviamente depois de muita terapia e muito tempo para curar suas feridas.
    Carlos finalmente conseguira rever a amada! De volta ao Brasil já há dois meses, encontrou Daniela comprando peixes numa banca do Mercado Público. Seu coração acelerou e suas pernas bambearam, como se não tivesse se preparado para isso. Ele tomou coragem, e chegou perto dela:
    – Olá, Daniela, quanto tempo? – falou com voz trêmula.
    – Olha só, você está vivo! E se lembra de mim! – ela respondeu, com uma ironia provavelmente ensaiada durante quase vinte anos.
    Carlos inventou uma desculpa qualquer, disse que foi para a Tailândia a trabalho e não falou nada para ela para “evitar sofrimento”. Daniela fingiu entender, e acabaram sentando-se numa banca no mesmo local para tomar um café. A moça contou a história de como havia parado numa cadeira de rodas: acidentou-se ao pular de uma cachoeira. Contou também como havia se apaixonado pelo seu médico, casado e tido uma filha com ele. Ao ouvir essa última parte, a expressão de Carlos mudou. Tentou disfarçar, e obteve mais algumas informações sobre a vida de Daniela. Despediram-se combinando um próximo encontro para colocar os assuntos em dia.
    Um mês depois, Daniela já nem lembrava do encontro, e nem que havia combinado outro: “vai ver ele voltou pra Tailândia! Não importa também.”
    Naquela quarta-feira comum, passava o café e preparava-se para trabalhar quando recebeu o telefonema. Seu marido estava morto. Assassinado. Seria um acidente de trânsito forjado, como o primeiro, se Carlos não tivesse vacilado e demorado para sair do local do crime, sendo pego em flagrante dessa vez. Não adiantaria nem fugir do país, estava preso, acabado. Continuava sonhando todas as noites com Daniela.

Vrindecrivo!


(Arte: JÉSSICA BELLOLI - Todos os direitos Reservados)


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

TRETA

Vou relembrar aqui uma “treta” em que me envolvi em 2017, após ser desrespeitado, juntamente com os meus colegas, pela organização do Festival “Litoral Canta a Tafona”, de Osório.
           Divirta-se! Vrindecrivo!
        Em 18/9/2017, escrevi: Por respeito à arte sempre. Nossa grande motivação. Sobre o "Litoral Canta a Tafona": nosso cachê foi cortado pela metade, nossa premiação foi cortada completamente, fomos os únicos que não fomos pagos no dia do evento (e ainda estamos esperando). Não fomos filmados. Não tinha nenhum fotógrafo lá. Não houve nenhuma divulgação. O público? Não teria não fossem nossas famílias. Tudo isso pra "economizar", sendo que o Festival abriu um dia inteiro inútil (o sábado), onde não houve classificação nem premiação, só mostrou os músicos de fora (que valem o dobro dos daqui, segundo o regulamento).
         Nossa! Os defensores dos festivais, principalmente os puxa-sacos da administração municipal e da assessora de cultura, vieram para cima de mim. Indiretas, ofensas... Enfim, acabei respondendo, como sempre, com textão. E olha: como eu era ponderado e educado com quem nunca me respeitou! Na época eu tinha medo de me revoltar por achar que fosse “piazisse”, mas hoje, desintoxicado e fora desse mundo podre dos festivais, sei que já pensava o certo.
      Um baterista imbecil falou que eu chorava porque a minha turma e eu éramos das “categorias de base”. Um pianista idiota, reproduziu a fala. Um compositor mau caráter, que já fizera coisas horríveis contra a própria assessora no passado, fez coro aos xingamentos dirigidos a mim. Já passou três anos, e eu permaneço orgulhoso nas categorias de base. Só sairia delas se mamasse nas tetas "da panela" e fizesse mesmices sem nenhuma contribuição artística.
       Segue o texto, carregado de ironia, do mesmo dia do anterior: Ainda sobre a Tafona, para quem não me (nos) conhece: Meu pai desde que chegou em Osório sofre com pessoas que não gostam dele por suas posições críticas e pesadas que sempre buscavam valorizar os músicos. Ele sempre se ferrou pra defender seus alunos e amigos que, sem motivo nenhum, viraram-se contra ele. Sempre vieram aqui e usaram a boca dele pra falar verdades que não tinham coragem para evitar constrangimentos. Mesmo assim, ele continua incansável, batalhando por uma vida cultural decente em Osório, que apesar de um potencial maravilhoso, nunca soube se destacar culturalmente falando. Vocês não fazem a menor ideia do que ele está fazendo nesse momento pela cidade. Todos se beneficiarão!
       Enfim, quando eu falo que o “Litoral Canta a Tafona” nos desvalorizou, é porque nos desvalorizou mesmo. Sim, seria melhor que não houvesse, se fosse para ser como foi. A diferença é que eu falo para as pessoas certas, e se não há solução, falo publicamente mesmo, buscando única e exclusivamente a correção desses problemas para as próximas edições. Respeito todo mundo, e não acho que vão haver retaliações para com o meu trabalho pois todo mundo é profissional, e acima de tudo todo mundo é amigo, ou deveria ser.
     Eu prefiro ser autêntico e buscar o respeito do que, por exemplo, ficar indignado e soltar um palavrão quando “perco” um festival para um conterrâneo. Eu prefiro ser autêntico do que ficar falando mal da organização nos próprios bastidores e depois rasgar elogios no Facebook. Eu prefiro ser autêntico do que renegar e tirar do meu currículo um grupo do qual participei e ajudou a me alavancar para o sucesso. Enfim, eu prefiro ser autêntico, respeitando as diferenças, e buscando REPEITO para com o meu trabalho. Se eu sou desrespeitado como fui na semana passada, vou lutar. Esse é o meu recado.
    Meu pai foi um dos pioneiros desse movimento, ele musicalizou uma região (palavras de uma professora minha da UFRGS), lutou e continua lutando pela arte e pelo sucesso dos seus “guris” e “gurias”. É muito ruim vê-lo triste e indignado, sentindo-se traído e renegado por quem ele sempre amou e, principalmente, ajudou a crescer, elevando os tantos talentos que existem na região.
     Minha crítica NUNCA foi à assessora de Cultura Adriana Sperandir, que aproveito aqui para também parabenizar, pois com certeza, sem ela e seu esforço, a Tafona teria morrido. Minha crítica é e continua sendo para os próprios músicos que se desvalorizam, e para um regulamento que desqualifica o trabalho da região e dos artistas iniciantes.
       Enfim, eu sou um dos maiores entusiastas da união dos artistas e a arte pela arte! Eu acredito que a UNIÃO seja o princípio básico para todos nós. E isso eu aprendi com o meu pai! Durmo muito tranquilo sabendo que é verdade, pois ensino isso e consigo passar para os meus alunos, o que me dá muito orgulho! Vamos nos unir de verdade, pessoal! Criticar sem perder amizades! Debater sem brigar! Não há nada melhor do que isso!

(IMAGEM: Minha última participação em festival, em 2017, que gerou toda essa treta. - FOTO: Arquivo Pessoal)

AUTOCRÍTICA

Eu não faço ideia se procede, mas na manhã deste quente sábado litorâneo, acordei por acaso, tendo que ligar o celular às pressas (sim, durm...