terça-feira, 14 de abril de 2020

AULAS ONLINE

Terça-feira é o meu dia na Rima. Ou seria, se não fossem todos os dias, por motivos de pandemia. Mas, para manter uma certa disciplina, continuei com os mesmos horários das aulas presenciais, individuais e de cinquenta minutos, da manhã até a noite. Poucos alunos não aderiram às mudanças, e mesmo os que não ficaram, não o fizeram por preguiça ou maldade. Uns tinham uma conexão limitada, outros eram muito crianças (com dificuldades para manter a atenção) e outros simplesmente não tiveram dinheiro para continuar, e, como se sabe, o curso de música é o primeiro a ser cortado nessas situações (não estou reclamando, apenas constatando, mas isso é assunto pra outra hora).

A verdade é que eu já tinha certa experiência em dar aulas pela internet: quando morei em Florianópolis, mantive alguns alunos da Rima nesse formato, e sempre deu bastante certo. A sensação William Bonner é maravilhosa - colocar uma roupa apresentável só da cintura pra cima e poder continuar com um chinelo velho e uma calça de moletom - e a dinâmica das aulas não muda quase nada. Creio até que essa forma de dar aulas vai crescer mais ainda, aqui por exemplo, vamos manter as aulas teóricas (as que são em grupos) dessa maneira, mesmo depois que pudermos voltar a receber os alunos na nossa sede.

Entre os problemas estão em ordem: cachorros adoram o horário de aulas online para conversarem incessantemente com seus donos; famílias grandes não respeitam muito a privacidade principalmente de crianças e não as deixam prestar muita atenção na aula; os alunos ficam se olhando continuamente na câmera e param exercícios para ajeitar os cabelos; entre outros menos importantes. Nada que não se supere e se transforme em comentários divertidos e até construtivos para as aulas.

O nosso serviço não é essencial, e atento aqui para que não haja preconceito com essa palavra: essenciais em meio à pandemia são os servidores da saúde, os assistentes sociais, segurança, defesa, transporte, telecomunicações, água, esgoto e lixo, iluminação, e uma série de outros, onde nós, os artistas, não nos encontramos. E tudo bem: a gente sabe que para todas essas pessoas estarem na rua, o nosso papel é ficar em casa entretendo outras pessoas que também devem ficar. Portanto, se quando da normalidade nós transformamos a vida em algo mais doce, durante uma crise global sem parâmetros recentes, nós somos os responsáveis por manter as pessoas vivas (acho que já tracei um paralelo entre vida e arte em outros textos).

Voltando às aulas, eu nunca pensei que ficaria tanto tempo sem ter contato frente a frente com um aluno. Desde que comecei a trabalhar há doze anos, esse é o maior período em que não entro numa sala de aula convencional, mas não tem problema! Como eu disse antes (e muitas outras pessoas vêm dizendo, inclusive especialistas), o mundo vai mudar a partir de agora. A gente não sabe o que vai encontrar depois que sair daqui, mas do alto da minha positividade que ainda persiste, mesmo cansado depois de dar doze aulas virtuais e viver um mês preso na cidade dos ventos, eu ainda espero que seja tudo melhor do que era.

Vrindecrivo!

 

(FOTO: UM MINUTO DEPOIS DE ESCREVER O TEXTO - ARQUIVO PESSOAL)

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