Terça-feira é o meu dia na Rima. Ou seria,
se não fossem todos os dias, por motivos de pandemia. Mas, para manter uma
certa disciplina, continuei com os mesmos horários das aulas presenciais,
individuais e de cinquenta minutos, da manhã até a noite. Poucos alunos não
aderiram às mudanças, e mesmo os que não ficaram, não o fizeram por preguiça ou
maldade. Uns tinham uma conexão limitada, outros eram muito crianças (com
dificuldades para manter a atenção) e outros simplesmente não tiveram dinheiro
para continuar, e, como se sabe, o curso de música é o primeiro a ser cortado
nessas situações (não estou reclamando, apenas constatando, mas isso é assunto
pra outra hora).
A
verdade é que eu já tinha certa experiência em dar aulas pela internet: quando
morei em Florianópolis, mantive alguns alunos da Rima nesse formato, e sempre
deu bastante certo. A sensação William Bonner é maravilhosa - colocar uma roupa
apresentável só da cintura pra cima e poder continuar com um chinelo velho e
uma calça de moletom - e a dinâmica das aulas não muda quase nada. Creio até
que essa forma de dar aulas vai crescer mais ainda, aqui por exemplo, vamos
manter as aulas teóricas (as que são em grupos) dessa maneira, mesmo depois que
pudermos voltar a receber os alunos na nossa sede.
Entre
os problemas estão em ordem: cachorros adoram o horário de aulas online para
conversarem incessantemente com seus donos; famílias grandes não respeitam
muito a privacidade principalmente de crianças e não as deixam prestar muita
atenção na aula; os alunos ficam se olhando continuamente na câmera e param
exercícios para ajeitar os cabelos; entre outros menos importantes. Nada que
não se supere e se transforme em comentários divertidos e até construtivos para
as aulas.
O
nosso serviço não é essencial, e atento aqui para que não haja preconceito com
essa palavra: essenciais em meio à pandemia são os servidores da saúde, os
assistentes sociais, segurança, defesa, transporte, telecomunicações, água,
esgoto e lixo, iluminação, e uma série de outros, onde nós, os artistas, não
nos encontramos. E tudo bem: a gente sabe que para todas essas pessoas estarem
na rua, o nosso papel é ficar em casa entretendo outras pessoas que também
devem ficar. Portanto, se quando da normalidade nós transformamos a vida em
algo mais doce, durante uma crise global sem parâmetros recentes, nós somos os
responsáveis por manter as pessoas vivas (acho que já tracei um paralelo entre
vida e arte em outros textos).
Voltando
às aulas, eu nunca pensei que ficaria tanto tempo sem ter contato frente a
frente com um aluno. Desde que comecei a trabalhar há doze anos, esse é o maior
período em que não entro numa sala de aula convencional, mas não tem problema!
Como eu disse antes (e muitas outras pessoas vêm dizendo, inclusive
especialistas), o mundo vai mudar a partir de agora. A gente não sabe o que vai
encontrar depois que sair daqui, mas do alto da minha positividade que ainda
persiste, mesmo cansado depois de dar doze aulas virtuais e viver um mês preso
na cidade dos ventos, eu ainda espero que seja tudo melhor do que era.
Vrindecrivo!
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