Premissa narrativa:
Carlos sonhava todas
as noites com Daniela. Por minuto sequer, esqueceu seu amor da adolescência.
A moça, por sua vez,
– que com apenas dezenove anos, tinha perdido dois namorados, o primeiro, morto
num acidente de trânsito; e o segundo, Carlos, desaparecido de sua vida – havia
superado, obviamente depois de muita terapia e muito tempo para curar suas
feridas.
Carlos finalmente
conseguira rever a amada! De volta ao Brasil já há dois meses, encontrou
Daniela comprando peixes numa banca do Mercado Público. Seu coração acelerou e
suas pernas bambearam, como se não tivesse se preparado para isso. Ele tomou
coragem, e chegou perto dela:
– Olá, Daniela,
quanto tempo? – falou com voz trêmula.
– Olha só, você está
vivo! E se lembra de mim! – ela respondeu, com uma ironia provavelmente ensaiada
durante quase vinte anos.
Carlos inventou uma
desculpa qualquer, disse que foi para a Tailândia a trabalho e não falou nada
para ela para “evitar sofrimento”. Daniela fingiu entender, e acabaram sentando-se
numa banca no mesmo local para tomar um café. A moça contou a história de como
havia parado numa cadeira de rodas: acidentou-se ao pular de uma cachoeira.
Contou também como havia se apaixonado pelo seu médico, casado e tido uma filha
com ele. Ao ouvir essa última parte, a expressão de Carlos mudou. Tentou
disfarçar, e obteve mais algumas informações sobre a vida de Daniela.
Despediram-se combinando um próximo encontro para colocar os assuntos em dia.
Um mês depois,
Daniela já nem lembrava do encontro, e nem que havia combinado outro: “vai ver
ele voltou pra Tailândia! Não importa também.”
Naquela quarta-feira
comum, passava o café e preparava-se para trabalhar quando recebeu o
telefonema. Seu marido estava morto. Assassinado. Seria um acidente de trânsito
forjado, como o primeiro, se Carlos não tivesse vacilado e demorado para sair
do local do crime, sendo pego em flagrante dessa vez. Não adiantaria nem fugir
do país, estava preso, acabado. Continuava sonhando todas as noites com
Daniela.
Vrindecrivo!
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