A versão final não ficou assim, mas acho importante o registro aqui, em 2021:
A interdisciplinaridade da História me
permitiu, não somente nesta pesquisa, mas também em diversas outras, analisar e
investigar questões relacionadas à Música, como ritmos, danças, eventos,
personalidades etc. Procuro, sempre que possível, integrar essas duas áreas do conhecimento.
Minha relação com a Música vem desde muito cedo, pois fui criado em meio a muitos profissionais da
área. A primeira lembrança que tenho, escutando música, é da canção Maria
Fumaça, de Kleiton e Kledir, que tocava no rádio enquanto meu pai explicava
quem eram eles, e como essa canção tinha feito sucesso, anos atrás.
Compreender
o contexto histórico da formação do Rio Grande do Sul, e como a cultura se fez
presente nele, investigando as origens da milonga através das diversas transformações
que sofreu, foi importante, para assimilar o que o músico Vitor Ramil, através
das suas composições e escritos, elaborou com a sua obra. A hipótese que investiguei
foi a ressignificação da milonga, a partir da leitura e audição de seus
trabalhos. Sua comprovação, veio na medida em que percebi elementos em comum em
todo o material, bem como suas transformações com o decorrer do tempo, no
recorte escolhido para a realização da pesquisa.
Há
uma extensa bibliografia acerca do tema, de diversas áreas, como Antropologia, Letras,
Música, História e Musicologia. Os trabalhos são voltados, em sua maioria, para
análises textuais, mas pude encontrar, também, algumas análises musicais e
pesquisas históricas, principalmente na investigação sobre as origens da
milonga e suas transformações.
Em
relação às fontes, o método que utilizei também foi interdisciplinar: análise histórica,
através da interpretação, bem como musical, estética e estilística. As
principais contribuições de Vitor Ramil para a ressignificação da milonga foram
condensadas por ele mesmo, em seu ensaio, publicado em 2004. A leitura desse
material colaborou imensamente para as percepções e análises dos cinco álbuns que
o artista lançou no período estudado.
Para
Vitor Ramil, a sua Estética do Frio não terminou quando foram lançados os álbuns
ou o ensaio. Segundo ele, ela deve se renovar, e os pensamentos em torno da cultura
do Sul podem, sempre, serem debatidos. Na minha opinião, a Milonga de Vitor Ramil
pode continuar gerando pesquisas, pois, é um bom exemplo de transformação musical.
O gênero, em si, original ou ressignificado, também dá margem para muita investigação
histórica. Musicalmente, há espaço para outras transformações, na própria milonga,
e também em ritmos como a chimarrita, o chamamé, o bugio, entre outros.
Neste trabalho, fiz uma análise dos regionalismos presentes na obra do compositor Vitor Ramil, entre 1997 e 2010, e como ele se utilizou deles, na sua linguagem contemporânea, para ressignificar o tradicional gênero musical pampeano. A milonga, assim, passou a adquirir caráter próprio. Considero, após a pesquisa, que a Milonga de Vitor Ramil, através de sua linguagem, contribui, desde o final do século XX, para a difusão e divulgação da música tradicional do Rio Grande do Sul no restante do Brasil, além de configurar a “trilha sonora” de uma identidade regional que, assim como o gênero, se ressignifica na contemporaneidade.