Desde muito cedo eu tive amizades pontuais. Eram todos da
minha família: basicamente primos e tios. Primos da minha idade haviam mais
dois somente, porém outros dois eram próximos, e era essa a nossa turma.
Fui para a escola muito cedo, sempre fui mais novo entre
todos os meus colegas, e para completar era extremamente tímido. Lembro que eu
não gostava muito de receber coleguinhas em casa (pelo menos até eles chegarem,
depois a brincadeira valia a pena) e na escola optava por ficar quietinho no
meu cantinho, fosse aula ou recreio.
No ensino médio conheci as primeiras pessoas de fora da minha
família que eu levaria para o resto da vida. Poucas, é verdade, mas de uma
conexão muito forte e de certa forma inexplicável. Aí veio a grande e louca
carreira – CARREIRA: que palavra esquisita. – Iniciar num trabalho é muito
estranho, e para mim foi realmente de uma hora para a outra (por necessidade
tive que me puxar no violão para dar aulas para iniciantes). Nesse ponto, quase
dez anos atrás, começa essa narrativa de fato. Uma história de uma vida jovem adulta
baseada em amizades feitas através da arte.
Como tinha pouca experiência, eu dava aulas somente para
crianças. Esse foi o ponto chave: fiquei muito amigo de muitas crianças. Criei,
produzi, coordenei e principalmente amei uma banda de crianças que fez muito
sucesso na região (cuja história eu vou tornar pública em outro meio) durante
pouco mais de um ano, e além disso, me tornei muito amigo de todas elas e
também de alguns pais. Foi um período onde aprendi muito, realmente, pois eu
tinha que lidar com problemas desde briguinhas infantis até paixonites
pré-adolescentes. Entrei nesse universo não por querer, mas não me importava,
pois sempre fui muito íntegro, e sabia como dosar e lidar com as situações.
Então eu, com 18 anos, tinha mais amigos de 12 do que da
minha idade. Olhando para trás, não reclamo disso, pois como disse, aprendi
muito com isso, mas, hoje faria bem diferente em todos os âmbitos. Porém como
disse, irei contar essa história ainda, não quero aqui fugir do assunto.
Logo após o término dessa bandinha, montei o Cordas e Rimas
com alguns amigos mais velhos, e também com a mesma cantora da anterior, agora
adolescente. Foi um período onde conheci muitos músicos mais experientes, e
passei a conviver com eles, trocando vivências e me divertindo com o que podiam
oferecer. De novo, minhas amizades se resumiam ou em alunos ou em colegas de
profissão. E isso, na época, me frustrava um pouco.
O tempo foi passando e eu fui encontrando pessoas
fantásticas, que passavam pela minha vida como uma tempestade, e eu nunca
entendia o porquê disso. Toquei junto com inúmeros artistas, gente da mais alta
capacidade musical, e eu – sempre muito agradecido – acabava esperando deles o
mesmo carinho e respeito, e muitas vezes ou quase sempre, não encontrava.
Chegando ao início de 2016, a cantora do Cordas e Rimas, que continuava
muito próxima a mim, pediu para sair da banda. Foi um processo natural, normal
e muito bom, sem nenhum drama ou problema, e foi – inesperadamente – o que
abriu as portas para essa nova percepção que eu tenho de todos os acontecimentos.
Acabei chamando duas mulheres para cantar comigo em um festival que se
aproximava, e, lembro como se fosse hoje, o bem que a energia que elas
trouxeram para dentro da minha casa me fez.
Conheci naquele ano essas duas pessoas que me ensinaram mais
do que eu poderia imaginar. Elas me mostraram que eu não precisava da música
para fazer amigos, e sim que os meus amigos poderiam fazer a música. Assim que
as amizades se constroem: o amor, a preocupação e o afeto vem sempre antes de
todas as outras questões. Foi nesse processo que me reaproximei de uma das
pessoas que mais amo, e que passou por tudo isso comigo, desde o início, e
nunca me abandonou; Foi nesse processo também que no ano passado, me tornei
mais “irmão” ainda de outra pessoa que amo e que criou comigo um espetáculo
maravilhoso (que relatei na minha última postagem) e está presente em todos os
meus planos futuros de carreira; Foi em noites de Cultura de Boteco que voltei
a estar junto da família, aqueles primos que falei lá no início; Foi através
dessas andanças também que conheci e me aproximei de outras pessoas
maravilhosas; Foi indo em acampamentos na Praia do Rosa, em bares na Cidade
Baixa, em fins de semana na chácara, em anos novos em Blumenau, em festivais em
Atlântida, entre outros “rolês” maravilhosos, que percebi que o amor verdadeiro
está em momentos, em conexões.
Tudo o que marcamos na vida e principalmente no viver uns dos
outros é o que constrói a nossa história. Eu sou grato pelos amigos que tenho
hoje, e sou grato pelo que vivemos e vamos viver juntos. Descobri que meus
amigos continuam sendo todos artistas, mas não por eu ter poucos contatos como
eu pensava antigamente, e sim porque esses artistas sentem isso comigo, e é
assim que nós nos conectamos e nos amamos: nos vivendo.
(FOTO: Arquivo pessoal)
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