terça-feira, 16 de janeiro de 2018

ARTEMIZADE

Desde muito cedo eu tive amizades pontuais. Eram todos da minha família: basicamente primos e tios. Primos da minha idade havia mais dois somente, porém outros dois eram próximos, e era essa a nossa turma.

Fui para a escola muito cedo, sempre fui mais novo entre todos os meus colegas, e para completar era extremamente tímido. Lembro que eu não gostava muito de receber coleguinhas em casa (pelo menos até eles chegarem, depois a brincadeira valia a pena) e na escola optava por ficar quietinho no meu cantinho, fosse aula ou recreio.

No ensino médio conheci as primeiras pessoas de fora da minha família que eu levaria para o resto da vida. Poucas, é verdade, mas de uma conexão muito forte e de certa forma inexplicável. Aí veio a grande e louca carreira – CARREIRA: que palavra esquisita. – Iniciar num trabalho é muito estranho, e para mim foi realmente de uma hora para a outra (por necessidade tive que me puxar no violão para dar aulas para iniciantes). Nesse ponto, quase dez anos atrás, começa essa narrativa de fato. Uma história de uma vida jovem adulta baseada em amizades feitas através da arte.

Como tinha pouca experiência, eu dava aulas somente para crianças. Esse foi o ponto chave: fiquei muito amigo de muitas crianças. Criei, produzi, coordenei e principalmente amei uma banda de crianças que fez muito sucesso na região (cuja história eu vou tornar pública em outro meio) durante pouco mais de um ano, além disso, me tornei muito amigo de todas elas e de alguns pais. Foi um período em que aprendi muito, realmente, pois eu tinha que lidar com problemas desde briguinhas infantis até paixonites pré-adolescentes. Entrei nesse universo não por querer, mas não me importava, pois sempre fui muito íntegro, e sabia como dosar e lidar com as situações.

Então eu, com 18 anos, tinha mais amigos de 12 do que da minha idade. Olhando para trás, não reclamo disso, pois como disse, aprendi muito com isso, mas, hoje faria bem diferente em todos os âmbitos. Porém como disse, irei contar essa história ainda, não quero aqui fugir do assunto.

Logo após o término dessa bandinha, montei o Cordas e Rimas com alguns amigos mais velhos, e com a mesma cantora da anterior, agora adolescente. Foi um período em que conheci muitos músicos mais experientes, e passei a conviver com eles, trocando vivências e me divertindo com o que podiam oferecer. De novo, minhas amizades se resumiam ou em alunos ou em colegas de profissão. E isso, na época, me frustrava um pouco.

O tempo foi passando e eu fui encontrando pessoas fantásticas, que passavam pela minha vida como uma tempestade, e eu nunca entendia o porquê disso. Toquei junto com inúmeros artistas, gente da mais alta capacidade musical, e eu – sempre muito agradecido – acabava esperando deles o mesmo carinho e respeito, e muitas vezes ou quase sempre, não encontrava.

Chegando ao início de 2016, a cantora do Cordas e Rimas, que continuava muito próxima a mim, pediu para sair da banda. Foi um processo natural, normal e muito bom, sem nenhum drama ou problema, e foi – inesperadamente – o que abriu as portas para essa nova percepção que eu tenho de todos os acontecimentos. Acabei chamando duas mulheres para cantar comigo em um festival que se aproximava, e, lembro como se fosse hoje, o bem que a energia que elas trouxeram para dentro da minha casa me fez.

Conheci naquele ano essas duas pessoas que me ensinaram mais do que eu poderia imaginar. Elas me mostraram que eu não precisava da música para fazer amigos, e sim que os meus amigos poderiam fazer a música. Assim que as amizades se constroem: o amor, a preocupação e o afeto vêm sempre antes de todas as outras questões. Foi nesse processo que me reaproximei de uma das pessoas que mais amo, e que passou por tudo isso comigo, desde o início, e nunca me abandonou; Foi nesse processo também que no ano passado, me tornei mais “irmão” ainda de outra pessoa que amo e que criou comigo um espetáculo maravilhoso (que relatei na minha última postagem) e está presente em todos os meus planos futuros de carreira; Foi em noites de Cultura de Boteco que voltei a estar junto da família, aqueles primos que falei lá no início; Foi através dessas andanças também que conheci e me aproximei de outras pessoas maravilhosas; Foi indo em acampamentos na Praia do Rosa, em bares na Cidade Baixa, em fins de semana na chácara, em anos novos em Blumenau, em festivais em Atlântida, entre outros “rolês” maravilhosos, que percebi que o amor verdadeiro está em momentos, em conexões.

Tudo o que marcamos na vida e principalmente no viver uns dos outros é o que constrói a nossa história. Eu sou grato pelos amigos que tenho hoje, e sou grato pelo que vivemos e vamos viver juntos. Descobri que meus amigos continuam sendo todos artistas, mas não por eu ter poucos contatos como eu pensava antigamente, e sim porque esses artistas sentem isso comigo, e é assim que nós nos conectamos e nos amamos: nos vivendo.

(FOTO: Arquivo pessoal)

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